quarta-feira, 15 de abril de 2009

O adobe

Mais um dia normal de escavação no Egipto: despertador para as 5:30, chegada ao campo por volta das 7:00. Quando chegámos as marcas de passagem do Khamsin pela área eram por demais evidentes. Apesar do vento, a definição das distintas realidades começa a ser a recorrente: massas extensas de derrubes e estruturas de adobe e, fossas de maior e menor dimensão, fruto de violações recentes.

Numa dessas fossas, na zona Oeste da porta calcária, encontrava-se outro dos nossos trabalhadores, Ramadan Gab, que carinhosamente apelidamos de "toupeira". Tal facto deve-se à felicidade no olhar sempre que é destacado para áreas, ou de perigo eminente de derrocada, ou de escavação em profundidade. Na temporada de 2008 enfrentou sozinho os perigos de uma fossa/ poço com cerca de 2,40 metros de potência e cerca de 1 metro de diâmetro. Nunca se sente claustrofóbico nestas situações, antes pelo contrário: vai fumando os seus cigarros "Cleopatra" enquanto enche baldes com o sacho.
Quanto à escavação, e de momento, apenas podemos identificar os compartimentos de acesso à porta (fruto de inúmeras violações recentes), e uma grande estrutura (com cerca de 1,5 metros de largura) de orientação N-S que se adossa à porta. Este tipo de realidades já havia sido aferida por Petrie nas suas escavações no topo do Palácio em 1909, pelo que julgamos integrar o vasto complexo de ocupação palaciana e militar datado de Época Baixa. Não obstante, e à excepção da porta, esta é a única estrutura de adobe com os limites bem definidos e que nos permitiu já a identidificação de um primeiro compartimento.

Depois de decorrida a escavação entre as 7 e as 13h, iniciámos o trabalho de tratamento de materiais, com a lavagem de todos aqueles que foram encontrados na unidade superficial [0].

Peças do dia: cabeça de estrangeiro em terracota, figura zoomórfica e pequeno amuleto em faiança (Anúbis).

Sem comentários:

Enviar um comentário